Copiado dos posts do Membro Luiz Coelho
Bem, mas agora quanto aos fatos históricos (sem também tomar partido da Igreja Católica Romana)...A primeira grande diáspora de judeus ocorre com a invasão babilônia. Comunidades começam a se formar, principalmente no Egito e em Babilônia (nem todos os cativos voltaram) e, em um certo momento, os livros que usavam começaram a não bater entre si. Na época helenista, já existiam dois cânones razoavelmente definidos: um judaico-palestinense e outro judaico-helenístico. O segundo era usado principalmente nas comunidades da diáspora (especialmente Alexandria)... Entretanto, havia um certo intercâmbio entre tais comunidades. Não é preciso dizer quem exatamente usava e quem não usava.Em Jâmnia, no final do século I houve um concílio a fim de fechar um cânon judaico. Era o momento da diáspora e os fariseus tomaram papel preponderante na reorganização da religião judaica como ela o é hoje. Ali, foi definido que os livros que se encontravam em grego não seriam incluídos no cânon. Tomou-se o partido do cânon judaico-palestinense.Esses livros são em número de sete: Sabedoria, Sirácida (ou Eclesiástico), Baruque, Judite, I e II Macabeus e Tobias. Partes de Daniel e Ester que também estavam em grego foram retiradas. Nem todos eram em grego originalmente. Sabedoria e I Macabeus não eram, por exemplo... Mas com a expansão da cultura helenista, seus originais se perderam.É esse concílio de Jâmnia que vai guiar a querela de 2000 anos sobre a canonicidade de tais livros. O fato é que, quando ele se estabelece, o cristianismo já era visivelmente uma religião separada da fé judaica (e não uma nova seita judaica como nos seus primeiros dias). Jâmnia não influenciou diretamente os cristãos, que muitas vezes se reagruparam em sinagogas do mundo helenista.
2 nov (3 dias atrás)
Luiz
Bem, mas agora quanto aos fatos históricos (sem também tomar partido da Igreja Católica Romana)...A primeira grande diáspora de judeus ocorre com a invasão babilônia. Comunidades começam a se formar, principalmente no Egito e em Babilônia (nem todos os cativos voltaram) e, em um certo momento, os livros que usavam começaram a não bater entre si. Na época helenista, já existiam dois cânones razoavelmente definidos: um judaico-palestinense e outro judaico-helenístico. O segundo era usado principalmente nas comunidades da diáspora (especialmente Alexandria)... Entretanto, havia um certo intercâmbio entre tais comunidades. Não é preciso dizer quem exatamente usava e quem não usava.Em Jâmnia, no final do século I houve um concílio a fim de fechar um cânon judaico. Era o momento da diáspora e os fariseus tomaram papel preponderante na reorganização da religião judaica como ela o é hoje. Ali, foi definido que os livros que se encontravam em grego não seriam incluídos no cânon. Tomou-se o partido do cânon judaico-palestinense.Esses livros são em número de sete: Sabedoria, Sirácida (ou Eclesiástico), Baruque, Judite, I e II Macabeus e Tobias. Partes de Daniel e Ester que também estavam em grego foram retiradas. Nem todos eram em grego originalmente. Sabedoria e I Macabeus não eram, por exemplo... Mas com a expansão da cultura helenista, seus originais se perderam.É esse concílio de Jâmnia que vai guiar a querela de 2000 anos sobre a canonicidade de tais livros. O fato é que, quando ele se estabelece, o cristianismo já era visivelmente uma religião separada da fé judaica (e não uma nova seita judaica como nos seus primeiros dias). Jâmnia não influenciou diretamente os cristãos, que muitas vezes se reagruparam em sinagogas do mundo helenista.
2 nov (3 dias atrás)
Luiz
Durante quase quatro séculos, os cristãos não tiveram um cânon fixo. Ou seja, de comunidade para comunidade, variavam os livros lidos. Alguns liam certas cartas dos bispos, como as cartas de Santo Inácio, outros liam evangelhos diferentes dos atuais, outros não aceitavam o Apocalipse... E entre os livros judaicos, muitos continuavam lendo os livros judaico-helenísticos, por terem simplesmente herdado-os de suas sinagogas da diáspora.Enfim, Marcião (que em Roma, quis retirar o Antigo Testamento e reduzir bastante o Novo) despertou os olhos dos pais da Igreja para a necessidade de que fossem melhor definidos os livros a serem normatizados. Vários pais da Igreja, após exame de todos os livros usados, passaram a opinar sobre cânones ideais. No final do século IV, o sínodo de Hipona definiu um cânon para o Novo Testamento, o qual foi ratificado nos dois concílios de Cartago, sendo o último já no século V, e que também optaram por incluir o cânon judaico-helenístico, conforme cria Santo Agostinho. Esses concílios eram locais - somente para a Igreja do Ocidente - e acabaram sendo tacitamente aceitos pela Igreja como um todo nos séculos seguintes.São Jerônimo, que traduziu toda a Bíblia para o latim, era de teoria contrária aos livros deuterocanônicos, e preferiu colocá-los numa seção à parte. Entretanto, já era consenso na época sobre a inclusão dos livros e as considerações de Jerônimo só foram ser ressuscitadas séculos depois, com a corrente do humanismo cristão no final do século XV.Vale ressaltar que tal corrente questionava vários livros da Bíblia - tanto do Antigo quanto do Novo testamentos. Houve livros do Novo Testamento (como Hebreus, Tiago, Apocalipse entre outros) que também demoraram para serem aceitos em várias comunidades. Lutero, ao optar por retirar os deuterocanônicos do AT, e por tentar retirar quatro livros do NT (Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse), estava meramente ecoando tais correntes.
É aí que as igrejas começam a fazer concílios para reafirmar seus cânones. Cartago tinha sido tacitamente aceito, mas não era um concílio ecumênico. Daí vem o Concílio de Trento e o Sínodo de Jerusalém (ortodoxo), que ratificam as decisões tomadas 1000 anos antes em Cartago. Mesmo assim, as visões são razoavelmente diferentes.Os ortodoxos, se não me falhe a memória, assumem uma posição de inspiração e canonicidade de todos os livros, porém, atribuindo um menor valor aos deuterocanônicos. Uma posição semelhante é adotada pelos anglicanos.Os católicos romanos colocam todos os livros em igual pé de igualdade: inspirados e canônicos.Os protestantes em geral os põem fora do cânon (conseqüência de Calvino que assim o fez - Lutero preferia colocá-los à parte, sem dar-lhes o status de inspirados).Algumas igrejas orientais, pré-calcedonianas, têm ainda mais livros...Ao contrário de muitos livros que seriam depois chamados de apócrifos, os deuterocanônicos não são obras de charlatões. Mesmo quem não os considera inspirados deve entender que foram por muitos séculos usados em comunidades judaicas e cristãs, e ao contrário de apócrifos posteriores, surgiram naturalmente e são fonte valiosa para o estudo da história e tradições judaicas do cerca de meio século que precedeu a vinda de Jesus.Alguns evangélicos tem imensos textos apologéticos contra esses livros, como conseqüência da rixa católicos-protestantes.
Certamente alguém vai tentar colar esses textos aqui. Basicamente, eles vêm apontar trechos de tais livros que favorecem injustiça, idolatria, etc. Quem tem uma visão um pouco mais ampla e um pouco mais de conhecimento do modo judaico de enxergar a Deus sabe muito bem que é possível pegar qualquer trecho do Antigo Testamento e traçar as mesmas conclusões. Nunca se matou tanto - e tanta gente inocente - em nome de Deus quanto no AT. Então, acho essas briguinhas de tentar provar quem está certo ou errado um tanto quanto fúteis, até porque o cânon do NT é o mesmo. Bem, é isso.